Translate

domingo, 27 de março de 2016

PMDB já pensa no “dia seguinte” à eventual queda de Dilma

Lula foi usado como desculpa para PMDB radical apressar rompimento

42

O debate sobre adiar a reunião do Diretório Nacional do PMDB de 29 de março para 12 de abril não tem nada a ver com uma articulação do ex-presidente Lula. Foi uma mistura da dubiedade dos senadores peemedebistas e da preocupação do vice-presidente da República, Michel Temer, com o “dia seguinte” a uma eventual queda de Dilma Rousseff do poder.
A tentativa de adiar a reunião da próxima terça partiu dos senadores do PMDB, fazendo jogo duplo em relação a Dilma e Temer. Eles queriam ganhar tempo para deixar que a presidente continuasse a tropeçar nas próprias pernas, como tradicionalmente vem fazendo nos últimos meses. Assim, o abandono do governo se daria no contexto da inevitabilidade dos acontecimentos.
O senador Jader Barbalho (PA) procurou Temer e expôs o seguinte raciocínio: se já sabemos que Dilma dificilmente escapará do impeachment, por que romper no dia 29 e criar um fato que poderá deixar a marca da traição ao quebrar a aliança PT-PMDB antes dos 30 dias de prazo dados pela Convenção Nacional de 12 de março?
A Convenção Nacional havia deliberado prazo de reunião do Diretório Nacional para deliberar sobre rompimento em até 30 dias. Jader disse que seria mais prudente usar todo o tempo concedido.
Outro argumento: até 12 de abril, a comissão da Câmara que analisa o pedido de impeachment da presidente provavelmente já terá votado um parecer a favor da deposição. Diante de recomendação da comissão e na iminência de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, marcar a votação em plenário, o rompimento em 12 de abril seria visto como uma consequência natural da incapacidade política da presidente de reunir forças no Congresso. O Senado, então, poderia agir com mais conforto para dar o empurrão final.
Temer julgou sensato. Pareceu um caminho mais responsável e menos associado a movimentos de rua que radicalizam cada vez mais palavras e atos. Jader emendou: se você assumir, vai precisar acalmar o país. Por que incendiar ainda mais algo que já sabemos como tende a terminar? Haverá o dia seguinte a administrar.
Convencido de que era uma boa ideia, o vice deixou São Paulo na terça 22/03 e marcou uma reunião à noite no Palácio do Jaburu com dirigentes de seções estaduais. Foi quase linchado pelo PMDB da Câmara quando deu início à discussão sobre postergar a reunião do Diretório Nacional. Os contrários ao adiamento disseram que virariam alvo dos protestos que têm foco no “Fora, Dilma”.
Os defensores da reunião no dia 29 argumentaram que o PP tinha encontro previsto para o mesmo dia. Um recuo peemedebista poderia influenciar os pepistas a também adiar um eventual rompimento. Mais: postergar poderia soar como vitória de Renan e Lula e um gesto de hesitação de Temer.
Na versão difundida por peemedebistas da Câmara, derrotar Lula entrou na história como uma desculpa para justificar o encontro na próxima terça. Seria a primeira derrota de Lula como articulador, versão que ganhou espaço na imprensa.
A primeira derrota de Lula foi ouvir um pedido de Temer para que não fosse anunciado oficialmente a ida do deputado federal Mauro Lopes (MG) para a Secretaria de Aviação Civil, a fim de respeitar a deliberação da Convenção Nacional que proibiu que filiados assumissem cargos até a decisão do Diretório Nacional. Lula falou com Dilma, que resolveu peitar o PMDB e nomear Lopes sem imaginar que a resposta imediata seria antecipar o anúncio do rompimento.
Esse erro político custou a Lula o cancelamento de um encontro com Temer, reunião aguardada até ontem pelo petista. Mauro Lopes está para lá de arrependido e já sinalizou que vai embarcar na turma do rompimento. Dilma vem perdendo terreno no PMDB.
Factualmente, o ex-presidente e virtual ministro da Casa Civil nunca quis adiar a reunião peemedebista. Desejava evitar um rompimento oficial ou, no mínimo, negociar uma declaração de liberação de votos de deputados e senadores, a fim de manter ministros peemedebistas nos seus cargos e usá-los para, no varejo político, tentar obter apoio contra o impeachment até o último suspiro de Dilma.
Aliás, o provável rompimento na próxima terça só alimentará a tentativa do Palácio do Planalto de obter suporte no varejo político. Leia-se: negociando verbas e cargos com cada deputado, cujo valor cresce exponencialmente na atual crise.
Nas ponderações de Jader, havia também um conselho sábio a Temer. Imaginar como reagiriam o PT e Lula após uma eventual queda de Dilma em relação a um novo governo capitaneado por PMDB e PSDB. Logo, deixar pontes com Lula seria recomendável a qualquer presidente que desejasse trazer mais calma ao país e a uma disputa política cada vez mais radicalizada que não vai desaparecer da noite para o dia.
Por ora, venceram os radicais peemedebistas da Câmara. A tendência é a reunião da próxima terça sacramentar o rompimento com Dilma. Talvez seja dado um prazo até 12 de abril para a saída de ministros perto do epílogo da batalha do impeachment na Câmara. A ansiedade de uma parcela dos peemedebistas tem trazido doses de realismo à leitura que Dilma e auxiliares fazem da crise e dos poucos recursos que ainda possuem para uma reação. Mas, como sempre acontece com Dilma, ela tem a tradição de agir tarde demais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário