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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

a presidência da republica estar sem 

liderança e encurralado

A ausência ou a timidez de autoridades políticas nos últimos protestos sinaliza o estado de carência de lideranças morais e reformistas que ora vivemos. O descontentamento e a exasperação dos manifestantes refletem a grave crise político-econômica, o grau de irresponsabilidade e a falta de coerência entre as intenções e as ações dos nossos políticos.
Apesar do apartidarismo pregado pelos organizadores das manifestações, o pedido de impeachment depende do Congresso para sua viabilização, ao passo que a renúncia está sujeita a uma improvável guinada na disposição, inclusive temperamental, da presidente. Portanto, é fácil constatar que os protestos, isoladamente, não se reverterão em algo concreto.
Há uma nítida e velha dissociação entre as ruas, as urnas e o sistema político. São tempos muito difíceis não apenas para o Executivo encurralado até pela própria “base aliada”, mas para as instituições e as outrora mediadoras organizações tradicionais dos partidos e sindicatos.  
As delações na Lava-Jato e os institutos de pesquisa corroboram as palavras de ordem e os cartazes de protesto empunhados por uma crescente parcela da população que tem rejeitado a atuação dos políticos que estão na linha sucessória da presidente. Não admira que figuras do Judiciário catalisem tal carência e a urgência de lideranças confiáveis. Há dois anos vimos Joaquim Barbosa elevado a salvador da pátria. Hoje, o juiz Sérgio Moro.
Num país sem tradição de mobilização popular, o personalismo predomina nas escolhas de porta-vozes e líderes. No âmago da crise política brasileira se acha uma profunda desconfiança em relação a todas as formas de organização - em especial as representativas - inseridas no nosso acanhado e imaturo sistema democrático. Tal situação tende a se cristalizar na medida em que ideários e programas dos partidos permanecem indefinidos e os seus líderes autônomos e descompromissados com os interesses do Estado. Exemplo maior da tradicional indistinção entre o espaço público e o privado celebrizada no estudo de Faoro.
Há um abismo entre a realidade cotidianamente vivenciada pela maioria dos cidadãos, o discurso delirantemente eufórico do Governo e a inércia do Legislativo em promover reformas efetivas. Fingimos crer, inclusive a presidente, nas “agendas” de mudança propostas por políticos que tradicionalmente sempre se postaram ao lado do poder hegemônico de ocasião.
A economia que surfou numa “marolinha” quando o resto do mundo quase se afogava, agora é vítima de um tsunami com consequências imprevisíveis. A distribuição de renda, que já nos colocava entre os 10% mais desiguais do planeta, ganhou a companhia do desemprego e da inflação. Previsível que, embora tarde, uma parcela de desesperançados, revoltados, impotentes ou indignados queira dar um basta às décadas de letargia das ruas.
Mas isso não é suficiente. No bojo do grave desequilíbrio conjuntural, o descrédito que a todos parece contaminar tem que abrir frestas para dar passagem a um basta politicamente organizado que possa vincular os anseios da sociedade por meio de leis. As oposições precisam convencer a população com alternativas de poder depuradas dos acordos e dos palanques multíplices e contraditórios que se concentram na defesa dos próprios interesses.
Bom seria se nossos políticos e governantes aprendessem a ouvir e a entrar em sintonia com as ruas, conduzi-las. Ter em mente a lição de Ulysses Guimarães, líder inconteste do processo de redemocratização do país: “A praça pública é maior do que a urna

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