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domingo, 22 de novembro de 2015

O VIRUS Zika: ameaça à mente

Vírus foi negligenciado em todo o mundo, o que dificulta o combate

   

Leo Mota/Folha de Pernambuco
Infectologista, Carlos Brito já tinha feito o alerta
Você deve estar se perguntando: como um vírus que até então se afirmava ser mais fraco do que a dengue e a chicunkunya pode estar causando todo esse temor nacional? Como ninguém sabia o que ele poderia provocar? Por que foi negligenciado até esta situação de emergência em que se encontra o País? Como podemos controlar essa epidemia de zika, frear o aumento de microcefalia e Guillian-Barré? É neste cenário de incertezas, muitas perguntas e respostas em formulação, que avança o medo. Num surto sem precedentes na história mundial, o zika encontrou no Brasil
terreno fértil para uma epidemia diante da grande infestação de mosquito do Aedes aegypt, seu vetor. Uma outra porta foi aberta: a Copa do Mundo de Futebol. Com circulação inexistente no Brasil até 2014, a mais forte suspeita da chegada do vírus no território nacional foi a visita dos estrangeiros para o evento esportivo. Não por acaso, recebemos aqui grande volume de torcedores asiáticos e africanos para jogos de suas seleções, continentes onde a doença tem histórico.
“Basicamente, o que se conhece do vírus zika hoje é pouco. Ele foi isolado em 1947, em macacos de Uganda, e causou surtos esporádicos em alguns lugares na África e Ásia. Por exemplo, ele causou um surto maior na Polinésia Francesa em 2013. Desde então, estava desaparecido, sem ser detectado. Chegou ao Brasil e provocou essa epidemia com vários casos confirmados”, comenta o pesquisador da Fiocruz, Rafael França, que iniciou estudos de cooperação internacional para desvendar a biologia do vírus até então desconhecida. Como atingia pequenas comunidades, em lugares mais remotos, o zika acabou negligenciado em todo o mundo, o que dificulta as ações de combate. Prova disso é a inexistência de trabalhos científicos
sobre a doença na literatura médica. Sem referências anteriores, ou melhor, com poucos e incipientes estudos sobre o vírus, os cientistas brasileiros tiveram que iniciar uma investigação praticamente do zero. Nos últimos 15 dias, por exemplo, é que aconteceram as primeiras confirmações laboratoriais do mundo da relação entre o zika e a ocorrência de microcefalia e outros quadros neurológicos, como a Síndrome Guillian-Barré (SBG).
Para o infectologista Carlos Brito - especialista que primeiro levantou a suspeita de circulação de zika em Pernambuco, assim como as complicações de microcefalia e SGB -, houve uma resistência dos governos em admitir a possibilidade de um novo vírus circulante, diante de uma latente epidemia da conhecida dengue. Quando o quadro viral se confirmou, o surto já tinha tomado grandes proporções com emergência sempre cheias de pacientes com manchas pelo corpo, febre baixa, dor articular e conjuntivite. Atualmente, quase um ano após a verificação do aumento de doentes, novos e ainda mais preocupantes reflexos apontam para as complicações do sistema nervoso central pós-infecção por zika. São 399 casos de microcefalia em bebês em sete estados nordestinos, sendo 268 em Pernambuco, e 127 pernambucanos notificados com SGB. “Os números realmente assustam, mas a maioria das mulheres podem ter manchas na pele na gestação mas só uma parte vai desenvolver complicações relativas à infecção. Do mesmo jeito funciona para a Guillian-Barré. Existem fatores de carga viral. Depende de aspectos individuais de proteção ou predisposição. Há vários fatores que ainda estão sendo estudados”, esclarece.
Quando o assunto é o futuro, a palavra-chave será convivência. Sim, Brito não acredita numa erradicação do zika no País. “O vírus tende a manter o padrão da dengue. As epidemias com a mesma sazonalidade das arboviroses. Isso significa que em determinados períodos, principalmente entre o fim do ano e início de semestre, esses surtos de zika devem retornar. Podem sair da esfera do Nordeste e se estender ao resto do País porque temos a presença do mosquito transmissor”, alerta

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